Se querem saber, não, não está a ser um feliz Natal para mim! Hoje não o irei desejar aqui.
Bem sei que são as vicissitudes da minha profissão. Um dia quando escolhi ser Enfermeiro, não pensei nos "natais" que ia passar a trabalhar. Fiz a minha escolha, estou feliz e realizado, mas sinceramente hoje e amanhã custa mesmo muito trabalhar...
Vi pessoas a ter alta, outras a dar entrada no Hospital, outras que provavelmente não irão chegar ao dia 25...
Vi familiares de doentes a chorar, estive com familiares de doentes que quase me emocionaram, não pelo que disseram mas pelo desfecho que eu sei que irá ter este natal para eles.
Chegou a altura de nos deixarmos levar pelas pequenas coisas. Deixar sentir as palavras simples, o sorriso mais pequeno e deixar sair o maior dos amuos...
Chegou a altura de revitalizar a alma e recauchutar o nosso exterior, por uma semana, que seja... Para que não corramos o risco de nos esquecer como é, como se faz e como se deixa entrar em nós o espírito natalício.
Já bebemos dele há muitos anos atrás. Bebíamos, comíamos, sonhávamos e acordávamos todos os dias a pensar Natal, da cabeça aos pés, de dentro para fora, da maneira correcta... de dentro para fora...
Por tudo o que já vivemos e nos lembramos. Da maneira correcta, da maneira mais simples e verdadeira...
Era um domingo, frio, de sol aberto e céu azul declarado, tal qual o de hoje.
O almoço tinha sido cozido à portuguesa.
Acompanhava o meu pai a passos largos em direcção ao café. Apenas me fixava nas pernas dele e em como ele conseguia andar tão depressa enquanto eu tinha que dobrar, espera... triplicar o número de passos.
Chegámos ao café, pouco iluminado, mesas de aparite revestidas de uma capa de plástico e cada uma com o seu respectivo cinzeiro. Sujo, impregnado de cinzas até às bordas. O balcão era alto, de pedra escura. Lembro-me que não conseguia alcançar o cimo da pedra. Nesse dia tive direito a uma pastilha, Gorila, sabor a banana. Era um dia especial!
Dali até à paragem do 51 foi um instante. O meu pai picou o BUC dos dois lados e lá chegámos ao estádio. O meu primeiro estádio. O estádio do Restelo.
O ambiente era diferente, sentia-se festa, expectativa, alegria, tudo isso misturado numa confusão controlada. Fui apresentado como filho por duas ou três vezes, e a custo lá lhes ia apertando as mãos... Afinal de contas era o estádio que me chamava à atenção. Não gostava de ser obrigado a apertar a mão.
Lembro-me dos gritos da Claque, quer dizer, dos adeptos, não havia ali bem uma claque, puxavam todos do mesmo modo, com o mesmo fervor e paixão. Sentia-se que era verdadeira e saudável. Acima de tudo respeitosa. Era o Belenenses!
"Belém, Belém, Belém, Belém", Cantavam todos, e aos pouco eu fui cantando também. Ao meu lado dois velhos de boina resmungavam pelos seus, os azuis, até que surgiu o primeiro golo. O golo os Deles. Eles que hoje já há muito devem estar debaixo da terra, naquele dia saltaram que nem molas e abraçaram-se de alegria.
De seguida, embutidos naquela onda de felicidade, chamaram o senhor das queijadas. Sentaram-se, com calma, muita calma abriram a embalagem. Eu ao lado, cobiçava, (na altura pensava que disfarçadamente, hoje percebo que não enganava ninguém) até que ...
- "oh rapaz, toma lá uma"...
Eu olhei para o meu pai, e ele acenou - "Diz obrigado"
- "Obrigado"
Foi a melhor queijada que comi até hoje.
Foi o melhor jogo que vi até hoje. Aquele sentimento de domingo à tarde não mais se voltou a repetir. Aquele céu, o cheiro da rua, aquelas pessoas e aqueles jogadores... nunca, nunca mais os vi.
Hoje vi o nascer do sol. Lá de cima, uma linha no horizonte. Leve, ténue e suave. Como tu um dia foste...
Até que com o passar do tempo me foste aquecendo e marcando, tal qual aquece e marca o sol, que suavemente vai trepando o céu e nos vai aquecendo, sem que ao certo nos consigamos aperceber do tal ponto de viragem.
As novas formas, um novo olhar, um novo poder, e um tardio reconhecimento...
Pode ser que agora as menos magras percebam o seu encanto, e que os que desconheciam que "estas" existiam, se arrependam dos anos a procurar no local errado...
Épa, hoje vou fazer grande brilharete.
Em vez de me sentar ao computador e perder horas a navegar perdido no mundo virtual, vou pôr mãos ao trabalho!
Lavar uma máquina de roupa...
Escolher a roupa, encher bem a máquina, colocar o toalhete de protecção das cores, e
Start!
Depois da centrifugação, vem tudo cá para fora. Espectáculo!
Agora, está na hora de estender a roupinha, e assim como quem não quer a coisa, não consigo resistir a cheirar a "perfume" roupa de roupa acabadinha de lavar...
Perfume? E o perfume?
Aqui o único perfume que se cheira é transpirado! Fogo, Esqueci-me do detergente... ups!
Estoirado, caminhou até à cozinha, abriu a porta do frigorifico, abriu a gaveta de baixo e tirou de lá uma Super Bock.
Dirigiu-se até à sala que ainda era iluminada de amarelo torrado pelo sol cansado que se ia pondo aos poucos.
Sentou-se, de perna aberta, e braços abertos apoiados nas costas do sofá, enquanto saboreava o descer do líquido gasoso garganta abaixo até assentar no fundo do estômago vazio.
Soube tão bem!
(e tudo isto num silêncio líquido, um silêncio gasoso)
Ele entregou-lhe o capacete, ela subiu a "bordo", agarrou-se ao tronco como que tem medo de perder... Subiram a rua até ao topo, e só pararam 1 hora depois. Seguiram para as ruas desertas de Lisboa, atravessaram inúmeros sinais amarelos intermitentes, foram molhados pelos salpicos das regas nocturnas e competiram com os camiões do lixo.
Já era dia quando ele a deixou onde a tinha apanhado. Foram abrir a pastelaria do bairro. Ainda cheirava intensamente a pão quente, tanto que o sono teimava em não chegar. As primeiras pessoas entraram e saíram. Depois vieram as segundas e as terceiras, enquanto ali falavam de tudo como se de nada se tratasse. E foi ali, naquela manhã, naquela pastelaria e naquele pequeno almoço que ele soube que seria ela.
Se há uma coisa que não compreendo nos sucessivos governos de Portugal, é a posição que tomam ano após ano, no combate aos fogos florestais.
Ao invés de gastarem milhares durante 9 meses de outono, inverno e primavera, teimam em gastar milhões num só mês, o de Agosto!
As vidas de bombeiros continuam a ser ceifadas como se fosse normal assim acontecer... Tanta gente sem trabalho no inverno, tão pouco que se investe na prevenção, e tanto que se gasta no verão quase sempre em vão.
Todos nós temos alguém conhecido que é bombeiro, só não pensamos que algum dia vai tocar a esse alguém, mas isso, isso é apenas uma questão de tempo.
Obrigado senhores governantes por todos estes homicídios por negligência.
Algo que cada vez mais nos circunda os pensamentos.
Estaremos nós com as condições de vida que desejaríamos? Os luxos que sempre desejámos, o ordenado que achamos que merecemos, a casa que idealizámos, os objectos que os outros têm e nós queríamos ter?
Tudo isso em Portugal parece estar cada vez mais longe... Não conseguimos ter a casa que desejaríamos, o ordenado que merecemos, os luxos que queremos, e depois vamos à procura disso lá fora e o que encontramos?
Um cubiculo de casa, uma renda altíssima, um ordenado alto para Portugal, mas baixo para um Português que vive fora de Portugal. Nada paga a família longe, as amizades que apagam, os dias que passam a ser rotina, os verões sem sol e as noites quentes numa esplanada.
Porque é que queremos sempre mais, se já temos tudo?!
Porque é que queremos condições de vida, se já temos uma vida em condições?...
Será a minha missão ser apenas feliz? Deverei eu matar-me a trabalhar para criar riqueza para os outros que não eu? Até que ponto o meu conforto valerá assim tanto, ou custará ele uma barbaridade?
Será que isto é não passa de um concurso de amizades? Existirá um pódio no final da vida para aqueles que mais laços criaram? Ou para aqueles que mais serão lembrados? Para isso contará apenas as coisas boas ou também as coisas más? As duas deixam marca, qui çá, mais as piores... Se assim for porque é que deveremos fazer o bem? Será que o que vale mais pontos é aquilo que nos faz sentir melhor? E se o bem me fizer sentir melhor?... E o guia para fazer as coisas bem? Alguém o tem?
Porque é que começamos todos do ZERO (0)? Sujeitos a tudo aquilo que alguém nos vai passando com o passar do tempo. Será isto uma rota de vai-vem? De uma caminhada penosa até um magestoso climax, para depois descer dolorosamente até à desolação?
Estou a pouco mais de um mês de me casar.
Às vezes penso que não estou bem dentro de toda a dimensão da coisa. Passamos meses a fio a preparar um dia, e quando damos conta, nem temos tempo para gozar os meses que antecedem o dia. Será esta a sina da nossa vida? Caminhar em função de um objectivo, que assim que atingido, e obtido o climax, se segue um atrofiar progressivo, até que novo desafio se depare?
Confesso que para agora este é o meu maior desafio.
Os dias sucedem-se vertiginosamente, e a responsabilidade vai aumentando Poucas são as vezes na nossa vida em que somos figuras de proa. Esta será uma delas... Fácil não será decerto, mas fortalecedora será certamente.
Depois... depois resta desfrutar.
Somos novos, os dias não param de chegar, o sol continua a levantar-se todos os dias e o cheiro a primavera, ainda nos brinda em dispersas pinceladas.
Eu vou casar, e depois?
O depois o dirá!...
Com paixão, amor e felicidade caminharemos até onde nos levar a idade!
60 dias é muito dia. É, sem dúvida alguma! Não tivéssemos nós que tratar de mil e um assuntos, pormenores que a cada dia que passa se tornam, pormaiores: despedidas de solteiro, ajustes de fato, registo civil, entrega de convites, confirmação dos convidades, distribuição dos convidados nas mesas, música para entrar na quinta, musica para abrir o baile, música para abrir o bolo, entretém para a miudagem no casamento, lembranças, sessão de fotografias antes de casamento, reunião com o Padre, curso pré-matrimonial, ementa do casamento, escolher o penteado, sapatos, meias... arranjar disponibilidades para tratar disto tudo, e ainda ter que trabalhar!
Haverá tempo para (con)viver no meio disto tudo?!
O que é certo é que se hoje tomei consciência que já fizemos muito... muito ainda está por fazer!
A passada já se tinha sincronizado com a respiração, e tinha acabado de entrar no modo automático, quando um, outro, e mais outro, pingos de chuva, começam a cair.
Desabou ali uma tromba de água, de uma forma copiosamente desencorajadora que rapidamente me começei a achar um pouco estupido. Ali sozinho, sem ninguém à vista, debaixo de chuva pesada em calções e T-xirt.
Primeiro, acelerei, depois abrandei, e sem saber bem o que fazer perdi o ritmo de corrida, até que me centrei no cheiro a natureza molhada.
Não era apenas a terra. Era cheiro a verde e castanho. Molhados. Sim, porque hoje, posso dizer que as cores ganharam cheiro!
É de louvar o pensamento inovador e empreendedor desta aluna de Enfermagem. Levantou um problema, e inventou uma solução, centrada no campo de acção da nossa profissão! Algo que só nós compreendemos...
Não podia deixar de referir que hoje, caso ainda cá andasse entre nós, este senhor faria anos.
Indiscutivel será sempre a influência que teve, tem e continuará a ter um pouco em todos nós. Quanto mais não seja, naqueles dias em que nada nos corre bem e tudo o que temos a que nos agarrar, é uma simples canção que vai passando baixinho no rádio do nosso automóvel, enquanto regressamos a casa de olhar vidrado na estrada ...
Sempre gostei ir à janela espreitar o luar. Sempre o fiz desde que me lembro. Desde a altura dos bicos de pés...
Hoje faço-o novamente. Abro a janela que dá para as trazeiras do meu prédio e lá está ela.
Bonita e serena, como sempre.
Lá fora tudo calado, e mesmo assim ouço o ruido de sempre, lá ao fundo...
Imagino que seja dos carros que atravessam a 25 de Abril, dos gritos no Bairro alto, das conversas de rua e o sussurro de todos os primeiros beijos que agora devem estar para acontecer.
De garantido nada temos.
Nada possuímos, nada monopolizamos.
Nem tempo, nem dinheiro.
Nada é nosso, tudo é fugaz como o tempo e volátil como o dinheiro. O momento vale por si, por quem o vive e pelo modo como marca alguém.
A marca. Essa sim, é a unica coisa que poderemos ter como garantido. Ao longo do tempo, ficará, ténue e cada vez mais transparente, mas se hoje a deixarmos bem vincada, pode ser que daqui a alguns anos, ainda se vislumbre algum dos seus traços...
Nunca antes se tinham "encontrado". Foi ali, no meio daquela multidão que perceberam que havia algo mais que amizade.
Por detrás de sorrisos inocentes e mais espontâneos que nunca, embriegados de vontades e livres de complexos, regras, limites ou mesmo imaginação, foi assim que se encontraram...
Frente a frente, num jogo de sedução pura e dura, mexiam-se como nunca. No meio de uma multidão louca e cega para o que ali se estava a passar, foram-se chegando, intencionalizando os toques, os sussurares e rapidamente da multidão sairam.
Onde tinham ido eles? Tinham ido dançar na escuridão...
É mesmo isso! Agora as drogas já não servem de nada. Decerto não haverá uma que retire o peso de consciência. O peso de ganhar injustamente 7 vezes seguidas a prova de elite do ciclismo:oTour de France.
Compreendo que uma vez mentindo, a única saída seria camuflar a mentira. Esta, outra e mais outra. Armstrong, sentia-se no dever de continuar a ganhar, a qualquer custo. Se é legitimo querer ganhar?! É! Mas nunca da forma como o fez. Se foi justo o final que teve? Foi, mais do que justo. O preço a pagar é extremamente alto, quanto se assume publicamente que se recorreu ao Doping. Nós, os amantes de desporto, vimo-nos defraudados, e se sem qualquer tipo de atrito idolatrávamos este mito do ciclismo a nível mundial, sem qualquer tipo de atrito o passaremos a repudiar.
A pior consequência desta revelação não será tanto para os créditos firmados a titulo individual deste senhor, mas sim para serem tomados como idónios quaisquer outros resultados no mundo do desporto que surpreendam pela sua espetacularidade...
Será verdade um Usailn Bolt, Michael Phelps, Messi, Cristiano Ronaldo...
Fica a dúvida no ar... Mas se algum destes campeões o é na mais pura da sua essência, uma coisa é certa, só esse poderá um dia transmitir a verdadeira essência do desporto a um filho seu.
Vivo hoje num mundo que em 50 anos mudou completamente as suas prioridades.
Há 50 anos os meus pais caminhavam descalços, não tinham electricidade, e para encher a barriga roubavam fruta à noite nos quintais dos vizinhos, porque a panela de sopa para 9 tinha sido escassa.
Hoje (num nundo onde eu me incluo) interessam as marcas, a televisão, não só os 4 canais mas os 70 quando não há sequer tempo para um.
Não há tempo nem para a televisão, nem para as pessoas. Não há tempo para os amigos, e mais grave que isso, não há tempo para a familia...
Quando duas vidas são interrompidas subitamente, quando tudo parecia bem, é que cai o remorço...
Ontem dizia um de dois irmãos, (o que estava do lado de fora da sala de Reanimação), depois de lhe ter sido dito que provavelmente iria ficar sozinho:
"Quero agradecer por todo o vosso esforço, todos viram o que fizeram, foram incansáveis..." e começou a chorar.
Nós, que estamos do lado de cá, que temos o prazer, e o poder (que muitas vezes esquecemos), de lidar com a vida das pessoas, não podemos ter maior pagamento que este. Aquele em que dois seres humanos frente a frente, despidos de tudo quão futil pode ter esta vida, reflectem sobre o bem mais precioso que algum dia herdámos dos nossos pais, a vida!
E foi assim numa noite como esta. Chuva miuda, ar húmido e pensamentos molhados. A água pingava de pequenos fios de cabelo desalinhado que tapavam a tua testa.
Uma estipidez que me atesta, detesta e mais que isso fará de mim uma besta...