quinta-feira, 29 de maio de 2014

Dor tipo moínha

As noites nunca mais voltaram a ser os mesmas, e os dias agora tinham-se tornado noites. 

Acordou todo suado com o coração aos pulos.
Tinha sido outro pesadelo. 
Experimentar a sensação de queda de um precipício, mesmo que a sonhar, nunca é fácil!




Arrastou as pernas para fora da cama, sentou-se e levou as mãos a cara. Esfregou-a várias vezes, como se aquele gesto o fosse fazer acordar melhor...
Levantou-se, e foi até à janela.
Naquela manhã era o nevoeiro que reinava. Impunha a sua névoa negativa e preguiçosa, perante toda e qualquer vontade de mudar. 
Deu com mais um dia cinzento. Era típico.
A calçada da rua, húmida, e o corrimão impregnado de formações gotosas, ansiando por quem nele coloque a mão, e as escorra num fio breve de água corrida.
Ele queria mudar, queria voltar, mas aquela moínha cinzenta não ajudava nada. 
Deixa estar... afinal é só mais um dia cinzento.

terça-feira, 27 de maio de 2014

Terra molhada

Pedalaram e pedalaram até chegar ao topo do monte.

O céu alternava os amarelos torrados, com os violetas da metamorfose azul empurrados por uma nuvem escura, que paulatinamente se aproximava.
Os chuviscos até que souberam bem naquela fase final. 
Estávamos a chegar ao cume e com a nuvem passada, ficou apenas um céu quase transparente de uma noite ainda clara. 
Via-se agora que as estrelas começavam a dar de si, bem antes de qualquer vestígio de uma lua cheia, crescente ou sequer minguante.
Sentámo-nos no penhasco, de pernas pendentes e pescoço esticado para trás. 
Olhos fechados, só nós dois e o cheiro a terra molhada.
Aquele cheiro a terra molhada... ainda te lembras?

sábado, 17 de maio de 2014

Música do dia - " Raggamuffin"

Agora que o sol se começa a pôr,
a água sabe bem...
Mergulhar por baixo de cada onda, até anteceder a zona de rebentação. 



Respirar fundo, passar com a língua nos lábios só para sentir o sal e ali ficar, até o sol desaparecer. 
Esperar pela última onda da tarde e deslizar até à areia.

Selah - Raggamuffin

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Cair em câmara lenta


Irás arrastar-te para fora de mim, de um modo tão pegado, que nem irei notar.
Tão pegado, quanto a calor dos dias quentes se arrasta sorrateiramente para as noites de verão

Em câmara lenta.
Será assim que logo à noite me vais deixar cair...
Gentilmente irás virar a tua cara e
será assim, gentilmente, que fugirás dos meus lábios.