sábado, 7 de dezembro de 2013

A primeira ida ao futebol

A primeira ida ao futebol.
Era um domingo, frio, de sol aberto e céu azul declarado, tal qual o de hoje.
O almoço tinha sido cozido à portuguesa. 

Acompanhava o meu pai a passos largos em direcção ao café. Apenas me fixava nas pernas dele e em como ele conseguia andar tão depressa enquanto eu tinha que dobrar, espera... triplicar o número de passos.

Chegámos ao café, pouco iluminado, mesas de aparite revestidas de uma capa de plástico e cada uma com o seu respectivo cinzeiro. Sujo, impregnado de cinzas até às bordas. O balcão era alto, de pedra escura. Lembro-me que não conseguia alcançar o cimo da pedra. Nesse dia tive direito a uma pastilha, Gorila, sabor a banana. Era um dia especial!

Dali até à paragem do 51 foi um instante. O meu pai picou o BUC dos dois lados e lá chegámos ao estádio. O meu primeiro estádio. O estádio do Restelo.
O ambiente era diferente, sentia-se festa, expectativa, alegria, tudo isso misturado numa confusão controlada. Fui apresentado como filho por duas ou três vezes, e a custo lá lhes ia apertando as mãos... Afinal de contas era o estádio que me chamava à atenção. Não gostava de ser obrigado a apertar a mão.

Lembro-me dos gritos da Claque, quer dizer, dos adeptos, não havia ali bem uma claque, puxavam todos do mesmo modo, com o mesmo fervor e paixão. Sentia-se que era verdadeira e saudável. Acima de tudo respeitosa. Era o Belenenses!

"Belém, Belém, Belém, Belém", Cantavam todos, e aos pouco eu fui cantando também. Ao meu lado dois velhos de boina resmungavam pelos seus, os azuis, até que surgiu o primeiro golo. O golo os Deles. Eles que hoje já há muito devem estar debaixo da terra, naquele dia saltaram que nem molas e abraçaram-se de alegria. 
De seguida, embutidos naquela onda de felicidade, chamaram o senhor das queijadas. Sentaram-se, com calma, muita calma abriram a embalagem. Eu ao lado, cobiçava, (na altura pensava que disfarçadamente, hoje percebo que não enganava ninguém) até que ...
- "oh rapaz, toma lá uma"...
Eu olhei para o meu pai, e ele acenou - "Diz obrigado"
- "Obrigado"



Foi a melhor queijada que comi até hoje. 
Foi o melhor jogo que vi até hoje. Aquele sentimento de domingo à tarde não mais se voltou a repetir. Aquele céu, o cheiro da rua, aquelas pessoas e aqueles jogadores... nunca, nunca mais os vi.

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