Acho engraçado, a sério que acho engraçado quando temos a comunicação social a dizer que não foram mantidos os direitos fundamentais quando supostamente a polícia avança com carga para cima de manifestantes selváticos, ou quando a comunicação social dá tempo de antena a alguém que afirma que um grupo de presos faz uma manifestação "pacifica" numa prisão.
Ninguém se lembra de perguntar pelos direitos fundamentais de a quem tenha que ser mudada uma fralda com alguém do sexo oposto ali mesmo ao lado, todo urinado ou cheio de fezes, onde curtas cortinas servem tão bem como curtos cobertores, que ou tapam os pés ou tapam a cabeça (algum lado fica a descoberto).
É neste mundo de fingimento em que vivemos. Onde cada vez mais nos tiram condições de trabalho, onde tiram cada vez mais dignidade e individualidade à pessoa que recorre a um hospital, onde os cuidados muitas vezes são seguros por pontas de arames pelos Enfermeiros, e onde ninguém reconhece o papel que esta classe tem na qualidade dos cuidados de saúde.
Está na hora das nossas intervenções serem contabilizadas, se traduzirem em custos para as entidades hospitalares, porque até agora um posicionamento de uma pessoa cientificamente correcto feito na cama, uma colocação de fralda, uma colocação de um catéter endovenoso, um banho dado, a administração de uma medicação, a aspiração de secreções, a prestação de esclarecimento acerca da situação clínica dos inúmeros doentes, a avaliação de sinais vitais, a vigilância do estado neurológico de um doente, a oferta do máximo conforto numa das situações que maior desconforto podem trazer (a admissão intra-hospitalar), a experiência de alguém que dá a opção à pessoa de urinar para um urinol em pé junto a uma cama em detrimento de uma algaliação apenas porque deitado na cama a pessoa não consegue urinar, as mobilizações correctas feitas a pessoas com fracturas de coluna, o estabelecimento da dieta, dar as refeições, ou simplesmente a capacidade única que apenas o Enfermeiro tem de captar a confiança e empatia a alguém que há cinco minutos atrás era desconhecido, tudo isso é "0" para quem financia as instituições hospitalares. Somos pagos à cabeça por um preço que um dia acharam correcto e mesmo que façamos mais ou melhor, quem financia esquece tudo o que disse anteriormente. Está na altura das coisas mudarem, está na altura de termos um preço, está na altura de nos darem valor.
Podem até dizer que somos uma profissão dos limpa cús, (somos! não só, mas orgulhosamente também), mas quando esses (os que o dizem), cairem na cama de um hospital, eu quero ver por quem é que eles vão chamar para limpar o deles...
Até lá vamos lutando, vamos fazendo o melhor que podemos e da melhor maneira que sabemos, porque queremos, porque acima de tudo gostamos e não trocavamos estas dificuldades por nenhuma outra profissão do mundo.