segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Música do dia # 13 - Come as you are


Tinhamos tido um furo de duas horas, a professora de Português tinha faltado à aula das 14h30 às 16h30, e em vez de irmos cada um para sua casa, fomos para a casa do amigo que morava mais perto. Era o Zé Nuno.
Estava uma daquelas tardes amenas, de céu limpo, que puxava que nem cola grande parte da miudagem a se esparramar no chão, junto à parede lateral do pavilhão D. Uns experimentavam os primeiros "bafos" num cigarro colectivo, outros reuniam-se em circulo de volta de um mais habilidoso que lá ia entoando uns acordes afinados e lá ao fundo, um grupo de cinco, ia trocando em cadeia massagens no couro cabeludo.
Nós éramos daqueles que ninguém notava, apenas mais uns que corriam todos os intervalos para a rua, para dar uns chutos numa lata esmagada durante uns curtos 10 minutos, antes que chegasse o segundo toque.
Mas naquela altura não nos apetecia nem tocar guitarra, nem dar umas passas, nem jogar "à bola".
Decidimos deixar aquele ambiente pasteloso que aí reinava e seguimos até três quarteirões à frente da escola.
Foi assim, que os cinco enfiados numa sala espaçosa ouvimos os acordes desta música.
Eu na altura nem me apercebi de quem se tratava, mas sei que a música me estava a entrar no ouvido. Para ali ficámos aquelas duas horas, a ouvir Nirvana, eu pela primeira vez, eles talvez já não, mas lembro-me que aquela tarde me marcou de uma maneira diferente.
Quando nos despedimos, aí sim, cada um para sua canto, tentei levar comigo os refrões desta e doutra música comigo, trauteando entre as ruas de Algés até chegar a minha casa. Sei que cheguei a casa frustrado, porque entretanto os acordes se tinham esvaído do meu ouvido e eu tinha novamente ficado "sem nada".
Já não me lembrava nem do nome da banda nem das música, não tinha ficado com nada. Na altura não havia net nem Google, não havia You Tube nem Facebook, não havia pesquisa por palavras chave nem mundos virtuais, pelo menos para mim e para nós que naquela época ainda vivíamos de Cassetes e das cópias que íamos pedindo a alguém que tivesse uma aparelhagem "potente" e que conseguisse fazer a gravação.
Na altura não havia preocupações, apenas pequenas obrigações.
Os trabalhos de casa par apresentar à professora de matemática do dia a seguir, a reza que fazíamos todos em conjunto nas filas de trás para que a professora de Físico-Química não nos chamasse ao quadro e as esquivas precisas que eu conseguia fazer na aula de Português, quando me escondia atrás da cabeça da minha colega da carteira da frente.
De resto o tempo era todo passado com a cabeça no ar. Com os olhos na minha paixoneta da turma, no jogo de bola que se passava lá fora e na finta espetacular que tinha feito no intervalo anterior (enquanto assoprava para dentro da camisola para reduzir ao máximo a minha transpiração que naquela altura começava a cheirar mal)!!!

Belos tempos esses, os da Escola Secundária de Miraflores

1 comentário:

  1. Adorei ler a história.
    Continua com força, miúdo!

    Gonçalo Martins

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