Ele voltava agora a casa depois de uma última discussão bem acessa. A vontade era pouca, mas aquele ainda era o único lugar onde podia ficar.
Quando entrou dentro de casa, ela estava sentada, contra a parede, de vestido branco já borrado de tanta lágrima maquilhada. Tinha-o comprado naquela tarde. Já o andava a fisgar há algumas semanas e fora-o comprar naquela tarde à Baixa de Lisboa. Saiu a correr do trabalho e antes que ele estranhasse qualquer coisa, apanhou o metro e o barco tão depressa que corrigiu o atraso. Hoje a noite seria apenas para eles dois. A filha tinha ficado ao encargo dos avós e tinha tudo para ser uma grande noite - pensava ela.
Enquanto atravessava o Tejo só pensava em como seria a mulher mais feliz do mundo. Nas suas costas deixava Lisboa, que naquele dia ficava para trás devagar demais, tal era a sua ansia. O mar mantinha-se revolto, como vinha acontecento há já alguns dias, mas ao menos não chovia e por isso, aproveitou a viagem na parte exterior do barco a apreciar as gaivotas que acompanhavam quase sempre aquele percurso.
Descalça, de pernas entreabertas e decote desalinhado, sem o mínimo querer e sem saber o que sequer fazer. Riscava anarquicamente a parede em que se apoiava com um marcador que tinha à mão, da mesma maneira que ele a tinha marcado nos últimos 5 anos.
Tinham sido muitos anos, muitas brincadeiras, muitos bons momentos, e era apenas disso que ela se lembrava das coisas boas...
Sem comentários:
Enviar um comentário