sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O primeiro beijo

Tinham passado cerca de 6 anos desde a última vez que tinham estado juntos. 
A despedida foi forte. Na altura ambos sabiam que nada voltaria a ser como dantes e que cada um tomaria o seu rumo, com outras escolhas, outras decisões, outras relações...
Com o passar do tempo os contactos entre eles foram escasseando, e um simples perguntar de "olá, como estás", deixou de ter sentido.
Quando nada o faria esperar, numa representação da sua instituição, ele deu com de caras com ela. Estava agora com um ar mais maduro, mais seguro, mas mantinha o sorriso de miúda adolescente que tinha no primeiro dia em que se tinham cruzado.
Não deixaram escapar a oportunidade, e acabaram por combinar um café quando ela saisse mais logo.
A conversa acabou por se prolongar num bar discreto que havia na periferia da cidade.
As horas foram passando e nem a fome dava sinais de presença, tal a o sentimento de avidez de parte a parte.
Ele, há anos que se encontrava sozinho, e ela já mãe de uma filha, apresentava agora um discurso mais amargo, fruto de uma relação mal conseguida.  

Sairam dali a passo lento, e perderam-se a contemplar as sombras que iam caíndo tenazmente dos postes de iluminação.
Sombras de um amarelo torrado, espelhado nas poças de água dispersas pelo alcatrão da rua.
O vento já apertava, não em força mas em frio, e tempo depois, viram-se os dois a fazer concursos de chamines fumegantes oriundas da boca de cada um.
Ela, agora, fazia-o intencionalmente direccionada a ele, e assim que começou, fez-lhe lembrar todo o querer afogado há anos atrás.
Já não tinham idade para pensar nas consequências, no que tinha ficado para trás ou sequer no que seria o dia de amanhã.
Ela pôs-se em ligeiro bico de pés, ele curvou ligeiramente o pescoço e levou a sua mão, aberta, à nuca dela. Puxou-lhe o cabelo para trás, descobrindo toda a sua cara -a beleza continuara lá ao final destes anos todos, pensou ele.
Ele fechou os olhos e abeirou-se prudentemente dos lábios dela, que por alheios estes anos todos, só agora deram a perceber o quanto sempre foram macios.


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