06h23 -
O despertador toca uma vez e eu desligo sem sequer notar que o fiz.
O despertador volta a tocar, e chego a abrir os olhos. Com a claridade vem a má disposição e a má vontade. Lá fora oiço a chuva a bater nos estores, e tudo o que me vem à cabeça é " COMO É QUE FUI CAPAZ DE ACEITAR ESTE DESAFIO". Está a chover lá fora, estou cheio de sono, dormi quatro horas e estou na eminência de deixar o quente dos meus lençóis de flanela.
Sento-me de pernas pendentes na cama e ganho coragem. O rádio despertador está sintonizado na rádio comercial, e lá vai tocando uma música que actualmente me vai despertando a curiosidade - Gotye - somebody i used to know.
Levanto-me, vou à casa de banho e lavo a cara. Desfaço a pouca barba que a espaços tenho semeada na cara e despeço-me aqui de mais uma coisa dispensável - Gillete e gel de barbear.
Vou até à janela e chove, "porra, continua a chover". Acelero o passo, desfaço a mala que havia ficado feita do dia anterior, numa procura rápida pelo impermeável que estava guardado num dos vários sacos de plástico.
Como qualquer coisa à pressa, olho uma última vez para o chapéu de chuva, e naquele momento decido abandona-lo, a ele e a toda a luxuria do nosso mundo.
Estou a momentos de iniciar esta viagem. É já hoje que espero começar a tirar as primeiras ilações sobre o que é realmente essencial no meu dia-a-dia.
Penso que será sobre essa vertente que cairá o meu pensamento, todas e quantas vezes, cada objecto que carrego comigo e que neste momento está às minhas costas, me começar a pesar três vezes mais que o seu real peso.
14h45 - Já chegados a Valença do Minho, tiramos uma primeira foto de grupo, histórica sem dúvida (já o sabíamos cá dentro sem saber ao certo até que ponto)
Iniciámos a viagem e tivemos o primeiro contacto com a natureza.
Pelas 20h30 chegamos ao nosso primeiro destino, Porrino. as pernas já caminhavam automaticamente e os ombros pesavam como se tivéssemos correntes de ferro a puxar os ombros em direcção aos pés.
O banho de cerca de 15 minutos de água quente a cravejar os ombros em modo cascata, soube pela vida, e a cada vez que escorria corpo abaixo, era limpo um pouco de todo o cansaço acumulado.
Cerca de uma hora depois fomos buscar o nosso último elemento que se juntava a nós a meio da viagem, (mal sabia ela que iria custar tanto) e foi com ela que nos apercebemos da realidade do peregrino e dos alberques. todo o albergue fecha às 22h00. Tudo o que vai para além disso não é permitido, e quem não está dentro do mesmo, já não volta a entrar mais.
A estadia fica a 5€/pessoa, sem pequeno-almoço. Regalia de peregrino...
Gastos no 1º dia: 26 €