quarta-feira, 10 de setembro de 2014

E os que estão do outros lado?

Chamo pelo intercomunicador- "Srª Isabel MCM, dirija-se à Sala de Enfermagem."
...

-Boa tarde, é a Srª Isabel MCM? ela acenou que sim com a cabeça. - Faça o favor de se sentar.
Trazia uma cara carregada, pelo andar notava-se que o problema estaria numa perna- um dos pés saltava fora dos seus sapatos abertos no peito do pé. Fazia uma espécie de "refego", e estava ruborizado. 
Consigo trazia uma série de sacos, com papéis e fruta espalhada aleatoriamente, para além de uma mala de alças compridas.
A Srª Isabel era apenas mais uma nas dezenas de pessoas que havia chamado naquele turno. Já cansado e com pouca vontade de fazer conversa, estava a trabalhar à cerca de 15 horas no mesmo local de trabalho. Tudo o que tinha que fazer era colher sangue para analises. Um gesto tão simples e banal para nós, especialmente depois de o termos repetido vezes e vezes sem conta. 
Mas algo me fez puxar um pouco mais de mim, sorri, aligeirei a coisa e tentei desanuviar o ambiente. Do outro lado consegui um sorriso e um obrigado. Já valeu a pena, pensei eu.

Quando sou eu o cliente, num café, restaurante ou mercearia, procuro colocar-me no lugar oposto e é aí que obtenho as reacções mais inesperadas. 
Compreendo a azafama de quem não pára um segundo, e gosto de a valorizar. 
A valorização não é o deixar a gorjeta no final. Para mim a valorização parte da compreensão pelos tempos de espera, compreensão pelos erros e atrasos e acaba num "obrigado e bom trabalho". Sim porque muitos se esquecem que os outros estão a trabalhar, muitas vezes debaixo de muito stress e fracas condições laborais. Por isso sugiro, sejam tolerantes e compreensivos para com os outros, pois eu tenho a certeza que no vosso trabalho também há dias em que se enganam e cometem erros, também se atrasam e trabalham sisudos.

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